terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O que assassinato de embaixador russo revela sobre tensões na Síria

"Nós morremos em Aleppo, você morre aqui." A sinistra frase acima foi proferida pelo policial turco que segunda-feira matou a tiros o embaixador da Rússia na Turquia, Andrei Karlov, durante a recepção de uma exposição na capital do país, Ancara. Antes de ser morto em um tiroteio com a polícia, o assassino disse estar agindo em retaliação ao apoio de Moscou ao regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, na guerra civil que assola o país do Oriente Médio desde 2011 - e que tem a cidade de Aleppo como um símbolo. A declaração exemplifica o complicado jogo de forças que cerca um conflito que, de acordo com estimativas da ONU, matou pelo menos 400 mil pessoas e provocou o êxodo de mais de 4,5 milhões. E o xadrez geopolítico poderá ficar ainda mais complexo por causa do assassinato de Karlov. O crime ocorreu em um momento em que Rússia e Turquia tentavam aparar arestas de um relacionamento já azedado pela derrubada de um avião militar russo pela força aérea turca, ocorrida em novembro do ano passado.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Algumas perguntas para entender a guerra na Síria e o que está acontecendo em Aleppo

Centenas de pessoas foram retiradas em ônibus e ambulâncias de um enclave dominado pelos rebeldes na cidade síria de Aleppo. Mas segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, a retirada total dos civis e dos rebeldes deve levar dias. Nesta semana, forças do governo, apoiadas pelos aliados russos, tomaram o controle de quase todas as partes de Aleppo que ainda eram dominadas pelos rebeldes - uma grande vitória para o presidente Bashar al-Assad. Enquanto ele anunciava a "libertação" da cidade e dizia que história estava sendo feita, um vídeo com crianças de Aleppo circulava na internet. A gravação, na qual um grupo de 47 crianças órfãs pede para sair da cidade sitiada e fala sobre seu medo, se transformou em mais um exemplo da dramática situação da população civil no local. Mas quais as implicações desses últimos desdobramentos? Entenda esse e outros pontos da guerra que, segundo a ONU, já matou mais de 400 mil pessoas e obrigou mais de 4,5 milhões a fugirem. 1. O que está acontecendo em Aleppo e quais as implicações dos últimos desdobramentos? A cidade tem sido um dos principais campos de batalha entre forças do governo e os rebeldes que querem tirar Assad do poder. Em novembro, as tropas governamentais lançaram um novo ataque e rapidamente retomaram o poder de quase toda a cidade. Nas últimas semanas, elas conseguiram confinar os rebeldes em poucos bairros. Dezenas de milhares de civis conseguiram escapar, mas a ONU afirma que centenas desapareceram ao tentarem controlar áreas controladas pelo governo e que rebeldes estão impedindo que civis fujam. Nesta quinta-feira (15), as forças beligerantes acordaram um cessar-fogo no qual os rebeldes e suas famílias poderiam ser levados para outras partes do país controladas por eles. Outro ponto acordado é o de que os feridos seriam levados a hospitais. Aleppo já foi a maior cidade da Síria, com uma população de 2,3 milhões de habitantes. Também era o centro financeiro e industrial do país. Em 2011, quando explodiram os protestos contra Assad, a cidade não foi palco de grandes manifestações ou da onda de violência que atingiu outras localidades. Mas no ano seguinte, ela se tornou um campo de batalhas importante após uma iniciativa dos rebeldes para expulsar as forças governamentais. Aleppo acabou sendo dividida em dois e, nos quatro anos seguintes, se tornou um microcosmo do conflito, simbolizando as fraquezas dos dois lados da guerra e também o fracasso da comunidade internacional para proteger os civis e obter um acordo de paz. Se Assad de fato retomar totalmente a cidade, isso significa que ele passará a deter o controle das quatro maiores cidades do país. Ele pode esperar que a vitória em Aleppo seja uma bola de neve que desemboque no fim da guerra. Mas com as forças rebeldes, grupos jihadistas e curdos ainda controlando grandes partes da Síria, pode ser que a guerra continue por muito tempo. Então, há a possibilidade de o conflito se tornar um outro tipo de guerra - em que os rebeldes não estão tentando assegurar territórios, mas sim praticando um tipo de insurgência que ataca e recua rapidamente. 2. Qual era a situação na Síria antes da guerra? Antes do início do conflito, muitos sírios se queixavam de um alto nível de desemprego, corrupção em larga escala, falta de liberdade política e repressão pelo governo Bashar al-Assad - que havia sucedido seu pai, Hafez, em 2000. Em março de 2011, adolescentes que haviam pintado mensagens revolucionárias no muro de uma escola na cidade de Deraa, no sul do país, foram presos e torturados pelas forças de segurança. O fato provocou protestos por mais liberdades no país, inspirados na Primavera Árabe - manifestações populares que naquele momento se estendiam pelos países da região. Quando as forças de segurança sírias abriram fogo contra os ativistas - matando vários deles -, as tensões se elevaram e mais gente saiu às ruas. Os manifestantes pediam a saída de Assad. A resposta do governo foi sufocar as divergências, o que reforçou a determinação dos manifestantes. No fim de julho de 2011, centenas de milhares saíram às ruas em todo o país exigindo a saída de Assad. 3. Como começou a guerra civil? À medida que os levantes da oposição aumentavam, a resposta violenta do governo se intensificava. Simpatizantes do grupo antigoverno começaram a pegar em armas - primeiro para se defender e depois para expulsar as forças de segurança de suas regiões. Assad prometeu "esmagar" o que chamou de "terrorismo apoiado por estrangeiros" e restaurar o controle do Estado. A violência rapidamente aumentou no país: grupos rebeldes se reuniram em centenas de brigadas para combater as forças oficiais e retomar o controle de cidades e vilarejos. Em 2012, os enfrentamentos chegaram à capital, Damasco, e à segunda cidade do país, Aleppo. O conflito já havia, então, se transformado em mais que uma batalha entre aqueles que apoiavam Assad e os que se opunham a ele - adquiriu contornos de guerra sectária entre a maioria sunita do país e xiitas alauítas, o braço do Islamismo a que pertence o presidente. Isto arrastou as potências regionais e internacionais para o conflito, conferindo-lhe outra dimensão. Em junho de 2013, as Nações Unidas informaram que o saldo de mortos já chegava a 90 mil pessoas. 4. Quem está lutando contra quem? A rebelião armada da oposição evoluiu significativamente desde suas origens. O número de membros da oposição moderada secular foi superado pelo de radicais e jihadistas - partidários da "guerra santa" islâmica. Entre eles estão o autointitulado Estado Islâmico e a Frente Nusra, afiliada à Al-Qaeda. Os combatentes do EI - cujas táticas brutais chocaram o mundo - criaram uma "guerra dentro da guerra", enfrentando tanto os rebeldes da oposição moderada síria quanto os jihadistas da Frente Nusra. Também combatem o Exército curdo, um dos grupos que os Estados Unidos estão apoiando no norte da Síria. Desde 2014, os EUA, junto com o Reino Unido e a França, realizam bombardeios aéreos no país, mas procuram evitar atacar as forças do governo sírio. Já a Rússia lançou em 2015 uma campanha aérea com o fim de "estabilizar" o governo após uma série de derrotas para a oposição. Essa intervenção possibilitou vitórias significativas das forças aéreas sírias. Os rebeldes moderados têm requisitado armas antiaéreas ao Ocidente para responder ao poderio do governo sírio. Mas Washington e seus aliados têm procurado controlar o fluxo de armas por medo de que acabem indo parar nas mãos de grupos jihadistas. 5. Qual é o envolvimento das potências internacionais? Os Estados Unidos culpam Assad pela maior parte das atrocidades cometidas no conflito e exigem que ele deixe o poder como pré-condição para a paz. Já a Rússia apoia a permanência de Assad no poder, o que é crucial para defender os interesses de Moscou no país. O Irã, de maioria xiita, é o aliado mais próximo de Bashar al-Assad. A Síria é o principal ponto de trânsito de armamentos que Teerã envia para o movimento Hezbollah no Líbano - a milícia também enviou milhares de combatentes para apoiar as forças sírias. Estima-se que os iranianos já tenham desembolsado bilhões de dólares para fortalecer as forças sírias, provendo assessores militares, armas, crédito e petróleo. Contrapondo-se à influência do Irã, a Arábia Saudita, principal rival de Teerã na região, tem enviado importante ajuda militar para os rebeldes, inclusive para grupos radicais. Outro aliado importante dos rebeldes sírios, a Turquia tem buscado limitar o apoio dos EUA às forças curdas, que acusam de apoiar rebeldes do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). Os rebeldes da oposição síria ainda têm atraído apoio em várias medidas de outras potências regionais, como Catar e Jordânia. 6. Por que a guerra está durando tanto? Um fator chave é a intervenção de potências regionais e internacionais. Seu apoio militar, financeiro e político tanto para o governo quanto para a oposição tem contribuído diretamente para a continuidade e intensificação dos enfrentamentos, e transformado a Síria em campo para uma guerra indireta. A intervenção externa também é responsabilizada por fomentar o sectarismo no que costumava ser um Estado até então secular (imparcial em relação às questões religiosas). As divisões entre a maioria sunita e a minoria alauita no poder alimentou atrocidades de ambas as partes, não apenas causando a perda de vidas, mas a destruição de comunidades, afastando a esperança de uma solução pacífica. A escalada de terror causada por grupos jihadistas como o EI - que aproveitou a fragilidade do país para tomar o controle de vastas partes de território no norte e leste - acrescentou outra dimensão ao conflito. 7. Qual é o impacto da guerra? Segundo a ONU, a guerra já matou mais de 400 mil pessoas e obrigou mais de 4,8 milhões de pessoas a fugir de suas casas - a maioria mulheres e crianças. O êxodo de refugiados, um dos maiores da história recente, colocou sob pressão os países vizinhos - Líbano, Jordânia e Turquia. Cerca de 10% deles buscam asilo na Europa, provocando divisões entre os países do bloco europeu sobre como dividir essas responsabilidades. E as estatísticas terríveis não param por aí. A ONU disse que são necessários US$ 3,2 bilhões para prover ajuda humanitária a 13,5 milhões de pessoas - incluindo seis milhões de crianças - no país. Além disso, 70% da população não tem acesso a água potável, uma em cada três pessoas não consegue suprir as necessidades alimentares básicas, mais de 2 milhões de crianças não vão à escola e uma em cada cinco indivíduos vive na pobreza. 8. O que a comunidade internacional faz para pôr fim ao conflito? Como nenhuma das partes é capaz de impor uma derrota decisiva à outra, a comunidade internacional há muito concluiu que a única forma de pôr fim à guerra é por meio de uma solução política. O Conselho de Segurança da ONU pediu a implementação do Comunicado de Genebra, adotado em 2012 na cidade suíça, que contempla um governo de transição com amplos poderes executivos "baseado no consentimento mútuo". Porém, as negociações de paz de 2014, conhecidas como Genebra 2, foram interrompidas. A ONU responsabilizou o governo sírio por se recusar a discutir as demandas da oposição. Um ano depois, a ascensão do grupo autodenominado Estado Islâmico deu novo ímpeto à busca por uma solução pacífica. Em janeiro deste ano, Estados Unidos e Rússia conseguiram convencer as partes em conflito a participar de "conversas de aproximação" em Genebra para implementar o plano da ONU. Mas as negociações foram suspensas ainda na fase preparatória, depois que as forças de segurança sírias lançaram uma ofensiva contra a cidade de Aleppo, no norte do país. Este ano, as duas superpotências mundiais conseguiram negociar uma interrupção das hostilidades, com a qual os enfrentamentos foram suspensos. A última trégua parcial, em meados de setembro, fracassou dias depois de entrar em vigor, após um ataque letal contra um comboio de ajuda humanitária, no qual morreram 20 civis. Os EUA culparam a Rússia pelo bombardeio - Moscou negou as acusações. Uma nova tentativa de salvar o cessar-fogo fracassou nesta semana em Nova York. O chanceler britânico, Boris Johnson, convocou os embaixadores da Rússia e do Irã no Reino Unido para discutir sua "preocupação" sobre a ação dos dois países na Síria. Ele disse que esses países falharam ao não ajudar no envio de ajuda humanitária a Aleppo e disse que ambos precisam garantir que as tropas da ONU supervisionem o processo de retirada dos civis e dos rebeldes. O Ministério de Defesa da Rússia disse que as autoridades sírias garantiram a segurança dos grupos armados que decidiram deixar a cidade. Na quinta-feira, o governo sírio anunciou uma nova ofensiva militar em Aleppo para recuperar áreas controladas por rebeldes. Após o anúncio, a cidade foi alvo de bombardeios ainda mais intensos que os vistos no país nos últimos meses. Fonte: www.Uol.com.br

Caminhão invade feira natalina em Berlim e deixa mortos e feridos

O caminhão invadiu uma feira de Natal nesta segunda-feira (19) em Berlim, na Alemanha. Segundo o último balanço da polícia, 12 pessoas morreram e 48 feridos, alguns seriamente, foram levados a hospitais da cidade. "Triste realidade. Hoje 12 pessoas perderam suas vidas na #Breitscheidplatz. 48 estão, parte seriamente ferida, em hospitais", afirmou a polícia cerca de cinco horas depois do primeiro balanço, que indicava 9 mortos e cerca de 50 feridos. Ainda não está claro por que o caminhão saiu da avenida em que estava e entrou na área da feira, que acontece na praça Breitscheid, perto da avenida Kurfürstendamm, na parte Ocidental de Berlim. A polícia informou que um suspeito de ser o motorista do caminhão foi preso perto do local e que um passageiro do veículo morreu no local. O caminhão tinha placa polonesa e nele foram encontradas vigas de aço. Suspeita-se que o veículo tenha sido roubado na Polônia em um local de construção, disse a polícia. Após a prisão do suspeito, a polícia informou que não havia mais nenhuma situação de perigo na região da praça, mas cerca de uma hora depois disse que estava checando "um item suspeito" numa rua ao lado da praça. O ministro alemão do Interior disse que elementos apontam para um ataque, mas que não quer especular. A Casa Branca repudiou o que "parece ser um ataque terrorista" em Berlim.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Mercosul suspende Venezuela por não cumprir normas do bloco

nezuela foi suspensa do Mercosul por não ter cumprido acordos e tratados do protocolo de adesão ao bloco, informou à Reuters nesta quinta-feira (1º) uma fonte ligada às negociações. A informação também foi anunciada pela AFP, que a atribui a uma fonte do governo brasileiro não identificada. O governo venezuelano será comunicado por uma nota oficial da Secretaria Geral do Mercosul ainda na sexta-feira e perderá todos os direitos de participação no bloco. A suspensão é por tempo indeterminado. De acordo com a fonte, para retornar ao Mercosul a Venezuela terá que renegociar todo o seu protocolo de adesão, com novos cronogramas e prazos para cumprimento dos acordos, como se fosse uma nova adesão. "Com o atual momento político e as dificuldades de negociação, é muito difícil prever quando, se e como a Venezuela pode tentar renegociar", disse a fonte do Ministério das Relações Exteriores brasileiro à Reuters. A decisão foi tomada em reunião dos negociadores durante a tarde, mas já estava prevista há alguns dias. Nesta quinta-feira, a Venezuela completa quatro anos de adesão ao Mercosul, e este foi o prazo máximo dado ao país pelos outros membros - Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai - para que os venezuelanos cumprissem todas as normas de adesão. Até esta semana, os venezuelanos haviam incorporado apenas cerca de 80 por cento das 1.224 normas técnicas exigidas, e 25 por cento dos tratados necessários. Entre eles, normas consideradas essenciais. A principal delas é o Acordo de Complementação Econômica 18. O texto prevê, entre outros pontos, a tarifa externa comum e o programa de eliminação de barreiras tarifárias intrabloco e é considerado a espinha dorsal do acordo comercial do Mercosul. Os venezuelanos alegavam que não precisariam aderir ao ACE 18 porque tinham acordos individuais com cada um dos quatro países. "Esses acordos não substituem porque todas as atualizações são feitas pelo ACE 18. Agora eles disseram que estavam dispostos a negociar, mas não dava mais", disse a fonte ouvida pela Reuters. Entre os tratados que não foram cumpridos, um considerado essencial é o protocolo de compromisso com a promoção e proteção dos direitos humanos. O primeiro artigo diz: "A plena vigência das instituições democráticas e o respeito dos direitos humanos e das liberdades fundamentais são condições essenciais para a vigência e evolução do processo de integração entre as Partes". O governo venezuelano alegava que algumas das normas do Mercosul feriam sua legislação. "Mas se o país quer de fato aderir, precisa mudar suas leis", disse a fonte. Mais cedo, antes mesmo da decisão definitiva, a chanceler da Venezuela, Delcy Rodríguez, usou sua conta no Twitter para informar que o país estava acionando o mecanismo de solução de controvérsias do Mercosul para questionar a suspensão. "A Venezuela se respeita! Funcionários comprometidos com mandatos imperialistas não podem atentar contra nossa pátria com suas ações anti-jurídicas", escreveu. Recentemente, o governo brasileiro e os demais países do bloco haviam baixado o tom das críticas políticas à Venezuela para esperar o resultado das negociações entre o governo de Nicolás Maduro e a oposição, intermediada pelo Vaticano. Isso, no entanto, não teria relação com a situação do país no Mercosul, explicou a fonte. A decisão pela suspensão esperava apenas o prazo e o resultado do levantamento feito pela Secretaria Geral do Mercosul para que fosse tomada. Em setembro deste ano, em uma reunião no Uruguai, os quatro países originais do bloco decidiram dar o prazo para que a Venezuela se adequasse antes da suspensão definitiva. Essa foi a saída encontrada para que o país não assumisse a presidência pro tempore, como estava previsto pelas regras do bloco, a partir de julho. Nesse período, diplomatas de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai fizeram a coordenação do Mercosul. Agora, com a decisão, a presidência deve passar para a Argentina. Fonte: G1.com.br