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domingo, 16 de fevereiro de 2014
O acerto e o erro dos black blocs
O acerto dos black blocs foi no diagnóstico que eles fizeram: sim, é verdade que há uma crise de representatividade do estado. É verdade também que nossos governantes em todos os níveis estão carecendo de legitimidade. É verdade sim que nossa democracia está necessitando de verdadeira democracia. É verdade que uma dúzia de financiadores de campanha controlam as eleições, doando para uma boa parte dos candidatos. É verdade também que nossa polícia está em parte numa crise moral, diante da constatação de que ela está cheia de assassinos e de corruptos, e que essa crise moral abala sua autoridade.
Tudo isso é verdade.
Já o erro dos black blocs foi a estratégia. Não quero ficar discutindo aqui se o uso da violência é ou não moral. Mas, independente da validade moral, é uma tática ruim quando o objetivo é ganhar o apoio da população. Usar violência para conseguir algo que depende da simpatia dos outros não funciona, simples assim. Ainda mais neste mundo de hoje, hiperconectado. Ninguém ganha a opinião pública explodindo coisas.
Essa foi a maior lição da luta por direitos civis nos Estados Unidos dos anos 60, liderada por Martin Luther King Jr. A sacada de King para expor o absurdo do apartheid americano foi usar a tática da “não-violência”, inspirada pela luta da independência da Índia contra os colonizadores britânicos.
“Não-violência” é bem diferente de “pacifismo”. Pacifismo significa ser contra a guerra – qualquer guerra, em qualquer momento. Já não-violência é uma estratégia de luta: significa resistir, recusar-se a colaborar, mas jamais reagir violentamente contra um adversário mais forte e errado. Essa estratégia é dificílima de implementar, porque não é fácil controlar os ânimos de multidões, ainda mais debaixo de cacetada. Mas os resultados são fantásticos: a resistência não-violenta expõe o agressor ao ridículo e conquista muito rápido o apoio do povo.
inspirados por um diagnóstico correto, os black blocs foram dominando as manifestações com uma estratégia errada, determinados a usar a força para combater aqueles que eles consideram seus inimigos: a polícia, os políticos, a mídia tradicional. Essa estratégia não tinha chance de dar certo por dois motivos: 1) eles jamais serão capazes de derrotar o estado pela força e 2) ao tentar isso, eles desmobilizaram o grosso da população e tornaram-se presas fáceis de um contra-ataque baseado na destruição de suas reputações.
Jamais os black blocs deveriam ter saído mascarados às ruas – a opinião pública nunca irá apoiar quem não mostra a cara. Jamais eles deveriam ter permitido depredações ou atos violentos – com isso eles atraíram “apoiadores” que só queriam brigar e quebrar, ou seja, o pior tipo de aliado, mais como cobrar deles se eles montavam um grupo de porta bandeira que recebiam em torno de 150 reais para bater e brigar com quem tivesse na frente da guarda.
O resultado é um impasse, que deixa o Brasil num suspense angustiante. Oito meses depois do início das manifestações, o cenário moral do Brasil é de terra arrasada. Não sobrou quase nada em pé. Os manifestantes são vistos como irresponsáveis e violentos. A polícia revelou-se despreparada e incapaz de fazer seu trabalho (proteger os cidadãos). A reputação dos políticos está abaixo do que se espera deles.Vários personagens da mídia comprometeram sua credibilidade ao entrar no confronto e faltar com a verdade em algumas ocasiões. O governo está calado, e a oposição não tem respostas. A opinião pública está raivosamente dividida.
Estamos num beco sem saída. Só fico torcendo para que a desconfiança generalizada e o ódio que dominou tudo não nos desviem daquela necessidade primeira, a que começou tudo: a necessidade de mudar. Não falo de mudar o partido que está no poder. Falo em mudar a forma de conceber e de dividir o poder. As lideranças capazes de mudar tudo – a política, os partidos, o governo, a polícia, os negócios, a mídia, as ruas – existem. Agora elas precisam aparecer e apontar o caminho para fora dessa crise generalizada. De cara aberta.
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