sábado, 17 de agosto de 2013

Massacre no Egito é humilhação para Obama

Em nenhum outro aspecto, a administração de Barack Obama é tão fracassada quanto no Oriente Médio. E em nenhum outro ponto do Oriente Médio a humilhação imposta ao presidente dos Estados Unidos é tão grande quanto no Egito. O massacre desta quarta-feira 14, no qual ao menos 568 pessoas morreram, mostrou como a maior potência mundial é incapaz de exercer influência sobre um Exército assassino, mesmo bancando os generais que o comandam. E não há perspectivas para o fim da vergonha. O apoio dos Estados Unidos ao Egito data do fim da década de 1970. Ao assinar a paz com Israel em 1979, o ditador da época, Anwar Sadat, tirou seu país da esfera de influência da União Soviética e o colocou sob as asas norte-americanas. Desde então e até hoje, duas razões primordiais mantêm a parceria Washington-Cairo. O tratado de paz é fundamental para a segurança do Oriente Médio, e também de Israel, grande aliado dos EUA, e o Egito controla o Canal de Suez, mais importante rota comercial do mundo. Em troca, os EUA repassam ao Egito 1,5 bilhão de dólares anuais, sendo que parte do montante vai diretamente para o bolso dos principais generais. Nos 30 anos do regime de Hosni Mubarak, o presidente que mais insistiu para o país caminhar rumo à democratização foi o de George W. Bush. Após o 11 de Setembro, a administração republicana reconheceu o óbvio: por trás do terrorismo estava a falta de democracia e não o islã. O ímpeto acabou rápido. Em 2005, a Irmandade Muçulmana, que por décadas foi ilegal e apresentava candidatos independentes, ganhou 88 assentos no parlamento egípcio. No ano seguinte, o Hamas, um braço da Irmandade, venceu as eleições nos Territórios Palestinos Ocupados. A dificuldade de lidar com aberturas democráticas que inevitavelmente produziriam governos antiliberais – como são os representantes do islã político pregado pela Irmandade e outros grupos – acabou com a chamada “promoção da democracia”. Em 2009, cinco meses após assumir a Casa Branca, Obama fez um importante discurso no Cairo. Lembrou os antepassados muçulmanos, citou o Corão e defendeu de forma veemente valores democráticos. Com o surgimento da chamada “Primavera Árabe”, Obama foi surpreendido, assim como boa parte do mundo. O presidente dos EUA provavelmente não esperava que precisasse enfrentar as contradições das ações e discursos norte-americanos tão rapidamente. Ficou claro que, como costuma ocorrer nas relações internacionais, os interesses se sobressairiam diante dos valores. Obama demorou a condenar a repressão imposta por Mubarak à praça Tahrir. Não fez vale seu peso para acelerar a transição do governo militar, que cometeu uma série de atrocidades. Numa tentativa de criar laços com a Irmandade Muçulmana não condenou de forma veemente os abusos cometidos por este grupo ao chegar ao poder. No último 3 de julho, não condenou o golpe cívico-militar que derrubou Mohamed Morsi. O resultado é que os dois lados da fraturada sociedade egípcia – os adeptos do islã político e os setores cristãos e seculares – são igualmente hostis aos Estados Unidos.

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